domingo, 20 de fevereiro de 2011 | By: Doracino Naves

Chove poesia na minha crônica.

Yêda Schmaltz: “Está caindo uma chuva de poesia na minha horta/ A poesia está batendo na porta, Carlos, e pulando pela janela/ a poesia está me afogando em poesia”.

Luiz de Aquino: “A noite anda, e aviva a chuva/Há um ar de espera e ansiedade... A mão diz adeus, a boca assente”.

Edival Lourenço: “Tudo é temeridade: a vida é um tremendo bolo/-uma brevidade".

Pio Vargas: “O volume da chuva é que decifra o dilúvio/ como no corpo eflúvio/é âmbar a dúvida/ a porta que mais vence/ é a porta que aberta permanece/ e o corpo que sente/ é nem sempre o que adoece”.

Novamente Pio Vargas: “Hoje é este voltar-se para dentro/enquanto alguém foge/com meus olhos molhados/ Alguém que eu saberia explicar/não fosse a tarde apodrecendo/dentro do peito/ e a inútil agonia de morrer”.

Chico Perna: “O pássaro sonhado carrega/nas asas muitas pedras/ perseguições e desencantos/ por estar preso ao sonho/a um visgo tão ilusório quanto a sua existência”.

Gabriel Nascente: Havia uma chuva/escondendo nuvens/dentro do sapato/havia um rio que nunca nadou entre as escamas/E um adejo de pombos na taça de Dionísio”.

Sinésio de Oliveira: “O relógio parou/ O tempo continuou dentro dele/ A imobilidade dos ponteiros é o tempo atropelando tudo e todos”.

Miguel Jorge: “Já não se vê o azul do azul, o mar que se imagina/Um tempo que fora assim de uvas, de frase e vinhos passados na memória/ - E quem cuida das vinhas do mar? O sono se desfaz no fim da linha, sensual linguagem que mal se pronuncia/ Cospem chuvas as uvas, verdes migalhas sobre a paisagem/Alguém fecha os olhos da noite, as feridas travadas dentro da casca, inutilmente expostas".

Gilberto Mendonça Teles: “Num cantinho de Goiás/quem achar um verso é meu/Tirei da pena de uma ave/que cantou e se perdeu/saiu voando, voando/nunca mais apareceu”.

Afonso Félix de Souza: “Ruas de chuvas leves, nunca o inverno/Como menino a brincar vinham as tardes/ e vinha o céu/Adeus, nuvens cinzentas/ onde vagam os monstros meus da infância”.

Brasigóis Felício: “Dizemos que não se fazem/ mais dias como antigamente/como a querer que o ontem/permaneça o mesmo/hoje e para todo o sempre”.
             
Carlos Willian: “Não há caminho/ e nada valho/ meu rir lascivo/é uma coreografia de enganos/ eu cresci como crescem/os espantalhos/ eu cresci sem planos”.

Cora Coralina: “ Não te procurei/não me procurastes/ íamos sozinhos por estradas diferentes/ Indiferentes cruzamos/ Passavas com o fardo da vida.../ Corri ao teu encontro/ Sorri.Falamos/ Esse dia foi marcado/ com a pedra branca/ da cabeça de um peixe/ E, desde então, caminhamos/ juntos pela vida...”

      
Doracino Naves é jornalista, diretor-apresentador do Programa Raízes Jornalismo Cultural na Fonte TV (
www.fontetv.net)

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